segunda-feira, julho 12, 2010

Um homem invictus

Nelson Mandela é um homem que não foi derrotado; é um homem invicto. Após quase 30 anos na prisão sob a linha segregacionista do regime apartheid, Mandela saiu da cela prisional para o salão presidencial. Com o poder nas mãos, ele tinha tudo para encarnar os temores de uma grande parcela dos brancos da sociedade sul-africana: vingança, revanchismo, ajuste de contas. Com o poder nas mãos, ele tinha tudo para incorporar as expectativas de uma grande parcela dos negros sul-africanos: idem, idem, idem. Mandela, porém, superou os preconceitos e medos de todos os lados ao propor a construção de uma nova sociedade baseada na reconciliação. Para tanto, duas decisões foram significativas. Primeiro, a realização do chamado “Comissão da Verdade e da Reconciliação”. Em vez de estimular uma caça aos promotores sanguinolentos do apartheid ou conduzir uma anistia ampla e irrestrita apenas como forma de esquecimento dos horrores da segregação racial, aquele tribunal colocava cara a cara ofensores e ofendidos. Como uma espécie de tribunal moral, ali começava o processo de pacificação sem o qual o país mergulharia na vingança sem fim.

A outra forma de reagregar o país dividido foi a decisão de Mandela de incentivar a conquista da Copa do Mundo de rugby pela seleção sul-africana, no ano em que a sede do evento seria a África do Sul. A divisão racial tinha levado os negros a identificar a seleção nacional como um símbolo da supremacia branca, o que os fazia torcer sempre pelo adversário em campo.

Uma história dessas não poderia deixar de virar filme. E no filme chamado Invictus, de Clint Eastwood, conta-se como Mandela planejou a nova sociedade sul-africana, dentre outras formas, usando o esporte como elemento unificador. Numa cena marcante, os jogadores da seleção sul-africana visitam o lugar onde Mandela esteve preso. Ali, o capitão da equipe se pergunta, Como alguém passa tanto tempo na prisão e ainda sai disposto a perdoar todo mundo?

A reconciliação foi uma escolha racional de Mandela. Na cela apertada, seu espírito voava. E ali, ele decidia ser o senhor do seu destino. Costumamos desresponsabilizar o indivíduo e criminalizar a sociedade. Claro que as estruturas sociais deixam poucas opções ao sujeito discriminado e marginalizado social e economicamente. Mas ainda há chances de escolhas e a consequência delas não pode ser creditada unicamente ao presidente, ao delegado, ao pastor, aos amigos, ao diabo.

Mandela, representado com a dignidade principesca do ator Morgan Freeman, recitava para si, na prisão: “Eu sou o senhor do meu destino, eu sou o capitão da minha alma”. Em diversas oportunidades, nossas escolhas revelam o que queremos ser e o que devemos fazer. E até onde estamos dispostos a ir por nossos propósitos e princípios.

No país que esperava vingança, ele dava o exemplo de justiça. Embora tivesse defendido o enfrentamento armado durante parte de sua vida de luta contra o regime opressor, ele não foi derrotado pelas algemas do apartheid nem pelo revanchismo nos tempos da cólera racial. Por isso, tornou-se um homem invicto.

Respondendo à pergunta, Como alguém passa 27 anos na prisão e sai disposto a perdoar?

É que, em tempos de ódio e intolerância, não há gesto mais revolucionário que o perdão.

(Joêzer Mendonça, Nota na Pauta)

7 comentários:

Pâmela disse...

Invictus,um filme de valores!Li em uma matéria da VEJA,se não me engano,uma entrevista com o astro Morgan Freeman,sobre a sua interpretação de Mandela.Diz lá que o próprio Mandela foi perguntado,quem ele acharia que faria bem o papel de Presidente Nelson Mandela,e Mandela respondeu:Morgan Freeman.O filme chama a atenção do telespectador a uma profunda reflexão:Como um homem que passou tanto tempo preso,saiu da prisão disposto a perdoar com atitudes inovadoras que levaram a Africa do Sul para frente.Achei interessente!

Quarteto Cantores do Rei disse...

Muito lindo esse filme !! Gostaria de deixar uma dica de um filme com uma maravilhosa lição de vida:"The Ultimate Gift" ou "O Presente" assistam, vocês vão gostar.

by vall disse...

Atuações brilhantes e uma história de arrepiar e inspirar.

Patricia Milani disse...

Maravilhoso filme, isto é a prova do que o perdão pode fazer!

Anônimo disse...

Belo filme, este é um exemplo vivo de que quem é beneficiado com o perdão é aquele que exprime esse nobre gesto... o perdão serva não apenas para o outro mas acima de tudo para quem o exerce.

Gabriel Alegre disse...

Valioso Film, que nos demuestra que invicto no es aquél que NUNCA pierde, sino quien SIEMPRE se levanta, a pesar de todo... Y esa fuerza sólo la otorga Dios :)

José Silva disse...

Pena que a verdadeira história não tenha nada de linda. Mandela foi preso por atentados terroristas e homicídios. Saiu da prisão em um acordo onde ele daria a concessão da exploração de diamantes de sangue para Nelson Rockefeller. Além disso, era o comunista que ti ha varios escravos negros em suas minas de diamantes.