sexta-feira, agosto 12, 2011

O dia em que Hollywood entendeu a Bíblia

Houve um tempo em Hollywood em que os produtores descobriram que a Bíblia podia lhes render um bom lucro. A fórmula era fortão se apaixona por mulher ideal e detona um império. O ator podia ser podia ser um gladiador, um rei, um escravo, um romano, um hebreu como Sansão; a atriz podia ser uma escrava, uma cristã, uma plebeia, às vezes uma pagã fatal como Dalila; o império derrotado ou era o filisteu ou era preferencialmente o romano.

Claro que não basta ter a receita na mão. Sem o cozinheiro certo, tudo podia virar um tremendo fiasco ou, no mínimo, perder a noção do ridículo. De todos aqueles filmes, a única obra-prima é Ben-Hur (1959), que tem a vantagem de ter como diretor o genial William Wyler, capaz de equilibrar as cenas grandiosas e épicas com o drama intimista.

Ben-Hur dura pouco mais de três horas que passam voando. A edição é uma aula para esses filmes monstrengos de hoje que pegam um naco de enredo e o enchem de barulho pra ver se passa rápido. Ben-Hur conta uma história de vingança e arrependimento, tem um casto romance, batalha naval, revolta de judeus contra o despotismo de Roma, corrida de bigas contra o romano Messala, seu ex-amigo de infância, e passagens da vida de Jesus. E não se sente o tempo passar.

Se o personagem principal é Judá Ben-Hur, o coadjuvante é simplesmente Jesus, que dá água a Ben-Hur, lhe vê passar ao longe enquanto fala a uma multidão nas colinas, ou carrega a cruz rumo ao Gólgota. Judá vê a Cristo, Cristo sempre dá atenção a Judá, mas o rosto de Cristo nunca é mostrado no filme. É como se o filme dissesse que o povo judeu, embora tivesse a Cristo ali perto, não Lhe retribuísse a atenção devida.

Uma cena extraordinária é aquela em que muita gente começa a se assentar aos pés de Jesus, mas Ben-Hur O olha de longe e decide continuar andando. A imagem corta para Jesus sendo mostrado de costas, mas Sua cabeça se movimenta acompanhando os passos de Ben-Hur ao largo. Essa cena me tocou bastante pela sugestão de que Cristo se importa com os que se achegam a Ele, mas não deixa de demonstrar interesse pelos que se distanciam.

No regresso de Ben-Hur a sua terra natal, ele encontra um árabe alegre com seus convidados e inflexível quanto ao tratamento mais humano de seus belíssimos cavalos de corrida. Entre esses convidados recebidos num dia de calor, está alguém que conta a Ben-Hur que presenciou o nascimento de Jesus e que Ele já teria a idade de Ben-Hur. O ancião acredita que Jesus é o Filho de Deus, e diz que Ele é Alguém que naquele dia quente “também viu o sol se por”.

Pouco a pouco vai se configurando o grande inimigo de Ben-Hur: ele mesmo, e não Roma, não Messala. Sua esposa lhe diz que esse Cristo, ao qual ele não dá crédito, ensina que se deve amar os inimigos e orar pelos que lhe perseguem. Esse é um ensinamento radical demais para seu coração ainda cheio de ódio. Afinal, ele não só esteve preso por mais de três anos nas galés, como também sua mãe sua irmã ficaram confinadas nos subterrâneos de uma imunda prisão onde contraíram da grave doença da época: a lepra.

A mudança de atitude de Ben-Hur começa quando ele passar a acreditar que Cristo pode curar sua família. Mas ele aparentemente chega tarde, pois Jesus está naquele momento carregando uma cruz. Ben-Hur passa a acompanhar com renovado interesse aquela caminhada dramática. Olhando para a cruz, ao lado do ancião que lhe falou do Filho do Homem, ele tem seu ponto de impacto, percebendo o abismo entre a alienação pecaminosa do ser humano e o sentido da salvação divina.

O teólogo da arte Paul Tillich dizia que a revelação é “a resposta às perguntas implícitas nos conflitos existenciais da razão”. Os conflitos de Ben-Hur não têm resolução na vingança. Ele ainda tem sede, como ele diz. Na cena da cruz, não apenas há revelação, mas sobretudo reconciliação, um momento em que ele sente acolhimento, perdão, amor e um novo propósito e sentido de vida.

Quantos filmes hoje têm os conteúdos cristãos trabalhados de forma tão simples e profunda? Ben-Hur é o filme mais cristão de todos os tempos porque, além de apresentar excelência técnica e estética em todos os detalhes, valoriza a mensagem cristã do chamado à transformação individual por meio da reconciliação espiritual. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo" (2 Coríntios 5:19).

(Joêzer Mendonça, Nota na Pauta)

9 comentários:

Anônimo disse...

Já perdi a conta de quantas vezes eu assisti esse filme, de longe e sem dúvida meu filme predileto!

Anônimo disse...

É um filme épico mas diferente dos outros filme biblicos que haviam nessa época, pois ele conta a vida de ben hur um contemporaneo do Nosso Senhor Jesus Cristo, portanto o que difere ben hur dos outros filmes é que ele traz uma mensagem de Deus sem pretender ser um filme biblico, como sansão e dalila, o manto sagrado e quo vadis por exemplo.
É por isso que eu considero ben hur o maior épico já produzido, pois nenhum filme conseguiu unir com tamanha perfeição esses tres elementos, o DRAMA, A RELIGIÃO ( o amor a Deus, se é que se pode definir assim e a AÇÃO.Portanto ele é perfeito.

Rafael disse...

"De todos aqueles filmes, a única obra-prima é Ben-Hur (1959)". Michelson, "Os dez mandamentos" e "Sansão e Dalila" você não considera bons?

Anônimo disse...

O FILME BEN-HUR NA VERDADE QUER NOS MOSTRAR UMA VISÃO TEOLOGICA FUNDAMENTAL. COMO RELATADO NO EXODO
O JUDEU REPRESENTADO POR BEN-HUR CONSEGUE DE LIBERTAR DO JULGO ROMANO. MAS NÃO CONSEGUE VER A RESSUREIÇÃO DE CRISTO, ATÉ O MOMENTO EM QUE SUA MAE E SUA IRMÃ SÃO CURADAS DA LEPRA.
POTANTO DEVEMOS ENTENDER A MENSAGEM QUE TEM GRANDE PROFUNDIDADE NO QUE SE REFERE AO JESUS MORTO E RESSUSCITADO.

WALLACE

Maristela disse...

Gostaria de indicar a Michelson o filme Missão Romana, que está contextualizado com os acontecimentos que envolvem a morte e ressurreição de Cristo, que levam o Imperador Romano a enviar um grande soldado para investigar em Jerusalém como se deu o julgamento de Cristo e tentar buscar o seu corpo para provar que Ele não ressucitou. Daí seguem conspirações, mentiras e conversões.

Avraham disse...

com certeza é o filme da minha vida (Ben hur).

Hennilson disse...

Esse filme é incrível. Fica aqui minha satisfação de já ter lido o livro e assistido o filme (O filme chega a ser mais tocante que o livro).

Gislene Linares disse...

Só posso dizer, com certeza, que é realmente um filme encantador; pois eu o assisti quando era criança, há mais de 30 anos, e nunca mais o esqueci. Sempre disse: é o filme mais lindo que já assisti, nunca me esqueci de cenas que ficaram marcadas pra sempre em minha memória. Vou assistir novamente com meus filhos...

Jorge M. Holanda. disse...

Esse filme marcou época, é realmente um filmaço, depois dele, só o filme com mel gibson (Apaixão de Cristo), é que tem tamanha grandiosidade, quando o tema envolve a pessoa de Cristo ou conceito religioso.