quarta-feira, maio 31, 2006

A Sombra e a Escuridão

Dirigido pelo competente Stephen Hopkins, "A Sombra e a Escuridão" (EUA, 2001) reuniu os astros Michael Douglas e Val Kilmer em uma movimentada e tensa aventura nos confins da África, no século 19 (o filme é baseado em história real). A dupla precisa matar dois leões sanguinários e extremamente inteligentes que impedem a construção de uma ferrovia. As feras caçam juntas, sem medo dos homens ou do fogo. Pior, matam por prazer e não para se alimentar, e têm um instinto quase sobrenatural para perceber as armadilhas que lhes são preparadas. O famoso caçador Remington (Douglas) e o engenheiro civil Patterson (Kilmer) tentam deter esses implacáveis monstros. Mas, nesta impressionante história de homens contra feras, os caçadores tornam-se a caça.

Ação de primeira, bonitas locações, astros e uma direção eficiente fazem de "A Sombra e a Escuridão" um filme/documentário interessante. Mas é bom advertir que há cenas fortes (especialmente quando os leões atacam suas presas) e um clima de suspense do começo ao fim. Por isso mesmo, não é recomendado para pessoas muito sensíveis e, sobretudo, para crianças.

(Com informações do site www.videolar.com)

Uma Lição de Amor

"Uma Lição de Amor" (EUA, 2001) conta a história de um pai devotado em luta com a justiça e a sociedade para manter a guarda de sua filha. Engraçado e comovente, o filme mostra a enorme generosidade do espírito humano.

"Uma Lição de Amor" é a comovente história de Sam Dawson (Sean Penn, em atuação brilhante), um pai com deficiências mentais que cria sua filha Lucy (Dakota Fanning) ajudado por um grupo de amigos bem especial. Ao completar sete anos de idade, Lucy começa a ultrapassar seu pai intelectualmente, e a forte ligação existente entre os dois é ameaçada quando uma assistente social decide que a menina deve ir viver com uma família adotiva.

Diante de situação em que aparentemente é impossível sair vitorioso, Sam decide enfrentar o sistema legal e estabelece uma incomum aliança com Rita Harrison (Michelle Pfeiffer), uma poderosa e egocêntrica advogada que inicialmente aceita o caso apenas por ter sido desafiada a fazê-lo por seus colegas. Numa análise superficial, os dois não poderiam ser mais diferentes, porém, na realidade, possuem sutis semelhanças. A natureza compulsiva de Sam espelha a obsessão de Rita em ser aceita socialmente, que é vista com mais naturalidade pela sociedade. Sua busca de perfeição e sucesso a distancia de seu filho e vem destruindo lentamente sua auto-estima.

Juntos, eles se empenharão em convencer o sistema de que Sam merece ter sua filha de volta e, ao longo desse processo, criam um vínculo que resulta num testemunho singular do poder do amor incondicional.

(Webcine.com.br)

sexta-feira, maio 05, 2006

"Meu Nome é Rádio": as várias faces do preconceito

Apesar de afirmarmos que respeitamos as diferenças e não somos preconceituosos, a questão da discriminação e da intolerância mútua é uma realidade em nosso mundo e em nosso país também. Infelizmente, os discursos de igualdade não passam de mera falácia. É por isso que o filme "Meu Nome é Rádio" (2003, direção de Michael Tollin) não perde a atualidade e aborda a questão do preconceito em relação a pessoas portadoras de necessidades especiais e que apresentam maneiras diferentes de aprendizagem.

Além de uma bela atuação de Cuba Gooding Jr, a trama expõe o lado discriminador de todos nós. A abordagem ocorre em torno da incapacidade humana de compreender o seu próximo, respeitá-lo e verdadeiramente apoiá-lo para que consiga ter uma convivência saudável com aqueles que o rodeiam. Recheado de cenas emocionantes e sem a violência barata e banal que permeia a maioria dos filmes cuja temática é o preconceito, "Meu Nome é Rádio" é baseado em uma história real. Traz à tela a história de personagens de "carne e osso" que viveram na pele as várias faces do preconceito em uma sociedade que teima em se diferenciar e não em se unir para crescer.

Felipe Lemos é jornalista em Florianópolis, SC.

terça-feira, maio 02, 2006

O Terminal

A história é absurda: ao chegar aos Estados Unidos depois de uma longa viagem de avião, Viktor Navorski descobre que seu país de origem, Krakozhia, foi palco de um golpe militar. Como os americanos não reconhecem a legitimidade daquele novo governo, o passaporte do viajante é invalidado. Sem poder entrar na América do Norte ou retornar ao seu próprio país, Viktor é obrigado a passar meses no terminal do aeroporto de Nova York. Pois bem: apesar de absurda, a história é real. Aliás, foi até suavizada: na verdade, o iraniano Merhan Nasseri passou nada menos do que 16 anos no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, permanecendo ali mesmo depois de ter conseguido autorização para sair do prédio (o que, do ponto de vista psicológico, não deixa de ser fascinante).

Depois de dar origem a uma produção francesa em 1993 (Caídos do Céu), o drama de Nasseri atraiu o interesse de Steven Spielberg, que decidiu adaptá-lo novamente para as telonas. Infelizmente, para o cineasta não bastava contar a história de um anônimo surpreendido por uma situação atípica que o obriga a se adaptar a um confinamento quase surreal. No mundo cinematográfico em que Spielberg vive, é preciso mais do que isso; é fundamental ser um herói, uma celebridade, alguém que desperta a admiração de todas as pessoas. Em suma: é necessário ser um personagem, não um indivíduo.

Não é à toa que os melhores momentos de "O Terminal" (2004) se encontram em sua metade inicial, quando conhecemos Viktor e o acompanhamos enquanto descobre que seu país está em guerra e que, conseqüentemente, ele se tornou um "cidadão de lugar nenhum". Sempre eficiente, o excepcional Tom Hanks confere grande carga dramática ao personagem, que precisa lidar com as dificuldades impostas por seu desconhecimento do inglês e com a frustração de encontrar-se em um dilema que nem ele nem os funcionários da Imigração conseguem compreender totalmente. Utilizando um sotaque que consegue ser engraçado sem soar falso, Hanks domina com tranqüilidade os diversos tons do filme, conseguindo provocar o riso ou a emoção do espectador sem carregar em sua composição.

Da mesma forma, Spielberg se sai admiravelmente bem nesta primeira hora de projeção: além de conduzir a trama com segurança, ilustrando a adaptação de Viktor ao terminal (a estratégia utilizada para conseguir dinheiro através da devolução de carrinhos é genial), o diretor cria vários planos memoráveis, como aquele que começa próximo ao rosto do protagonista e se afasta dezenas de metros, sobre uma grua, a fim de retratar o isolamento e a insignificância do personagem frente à situação na qual se encontra. Além disso, a fotografia de Janusz Kaminski, parceiro habitual de Spielberg, é de extrema competência – principalmente se considerarmos que ele estava trabalhando em um set repleto de superfícies capazes de refletir a equipe ou o equipamento.

É uma pena que, gradualmente, "O Terminal" deixe de ser um interessante estudo de personagem e se transforme em um drama tipicamente hollywoodiano – uma mudança que pode ser percebida através da própria alteração sofrida ao longo da projeção pelo personagem de Stanley Tucci, o diretor do aeroporto. A princípio, Frank Dixon é um sujeito que, por não saber o que fazer com Viktor, decide deixá-lo livre no aeroporto com a esperança de que ele tente fugir, o que transferiria o problema para o FBI. Porém, ao perceber que Viktor não pretende sair do terminal sem permissão, Dixon procura encontrar outras formas de resolver a questão, chegando até mesmo a encontrar uma solução e apresentá-la ao imigrante (o que resulta numa das cenas mais engraçadas do filme). Infelizmente, logo em seguida os roteiristas Jeff Nathanson e Sacha Gervasi decidem converter Dixon em um vilão estereotipado, enfraquecendo o conflito ao torná-lo inverossímil (a "raiva" do diretor do aeroporto por Viktor jamais soa autêntica). Como se não bastasse, ainda há uma sugestão de "redenção" que soa simplesmente ofensiva.

Para piorar, o filme apela para uma série de gags físicas que, além de não funcionarem, diluem a força dramática da história: como Viktor vive tropeçando, trombando em portas de vidro, entrando nos banheiros errados e escorregando no chão úmido, o espectador encontra dificuldades para identificar-se com ele, já que o sujeito praticamente se transforma em uma espécie de Inspetor Closeau búlgaro (ou melhor: krakozhiano). Além disso, o roteiro falha ao não explicar por que Viktor, depois de tentar ligar para sua casa no início da projeção, jamais volta a fazê-lo – o que é incompreensível. Para piorar, "O Terminal" inclui uma série de personagens secundários incrivelmente caricaturais, como o latino apaixonado e o indiano exótico.

Apelando até mesmo para uma subtrama romântica boba e totalmente dispensável envolvendo Hanks e a aeromoça vivida por Catherine Zeta-Jones, o filme finalmente desmonta no terceiro ato, quando o motivo da viagem de Viktor (que não vou revelar) é apresentado como se fosse uma grande surpresa. Além de ridícula, a tal revelação soa como uma tentativa desesperada e final de Spielberg para provocar as lágrimas do público – no que acaba falhando.

Curiosamente, foi justamente por se entregar ao maniqueísmo e ao sentimentalismo barato que o cineasta já havia falhado em "Amistad" e "A.I. Inteligência Artificial" - dois outros raros tropeços na carreira espantosamente regular de Steven Spielberg.

(Cinema em Cena)

"O Pianista"

Durante a II Guerra Mundial, o famoso pianista judeu polonês Wladyslaw Szpilman vê sua família ser deportada, em 1942. Ele consegue se salvar, por puro acaso, do comboio da morte. Um policial, também músico, o arranca do vagão. Mas é enclausurado junto com outros milhares de judeus no Gueto de Varsóvia, errando às escondidas durante mais de dois anos e passando por sofrimentos, humilhações e lutas impossíveis numa Varsóvia dominada pelos nazistas. Doente, solitário e faminto, deve sua vida a outro oficial alemão, católico, Wilm Hosenfeld, que tem uma paixão exagerada pela música. Abalado pelos crimes nazistas, decide ajudá-lo a sobreviver.

Três etapas dividem o filme ("O Pianista", 2002): a opressão sufocante da sucessão de leis anti-semitas, que os judeus da época queriam acreditar, a cada novo decreto, que aquele seria o último. O medo, frente ao nazismo, presença estranha e desumana, que ameaçava pessoas e famílias inteiras. Enfim, o inexplicável dos crimes imprevisíveis e frios, que não deixam margem para esperanças. Polanski consegue fazer esta reconstituição com rara autenticidade. No filme "O Pianista" não se chora, mas um sentimento de revolta e de raiva se apodera do espectador diante da maldade dos carrascos.

Neste filme, o diretor Roman Polanski quis reatar seus laços com sua origem judeu-polonesa, com infância passada no Gueto de Cracóvia. Sua mãe morreu no campo de concentração e, embora seu pai tivesse sobrevivido, o mais terrível de tudo é que uma criança resiste a tudo, mas fica marcada para sempre quando é separada dos pais, diz Polanski, em entrevista a O Estado de S. Paulo, em 9 de outubro de 2002. "Sempre soube que um dia faria um filme sobre o Gueto de Varsóvia, sobre esse período doloroso da história da Polônia, mas não queria que fosse autobiográfico. Desde a leitura dos primeiros capítulos das memórias de Szpilman, soube que 'O Pianista' seria objeto de meu próximo filme. Era a história que eu precisava: apesar do horror, positiva e cheia de esperança. Sobrevivi ao bombardeio de Varsóvia e ao Gueto de Cracóvia e quis recriar as lembranças de minha infância. Quis ficar o mais perto possível da realidade e não filmar à moda de Hollywood."

A história de Spzilman permitiu a Polanski reviver sua própria história e o tema do isolamento humano, tão caro a ele, reaparece no filme através de janelas: quando Spzilman é obrigado a pular de abrigo em abrigo, de um apartamento de amigos poloneses para outro, vemos o Gueto de Varsóvia através de seus olhos. Vemos o que ele vê e, mais importante ainda, da forma como ele vê. Esses fatos estão inscritos na sua consciência e vão moldar sua memória para o resto da vida.

No livro que escreveu, Szpilman nunca se coloca como herói, mas como um sobrevivente acidental, um homem que por ironia do destino deve sua vida ao inimigo.

** PASSADO COMUM

Vários filmes, como "A Lista de Schindler", de Spielberg, ou "A Vida é Bela", de Roberto Begnini, tentaram mostrar a dimensão do que foi o Holocausto. Algumas das cenas do filme "O Pianista" impressionam por seu realismo. A cena final, em que Szpilman se encontra na Varsóvia do fim da guerra, parece uma arena de sobreviventes de um pesadelo.

Foi difícil achar os lugares em ruínas que a história exigia. Portanto, foi necessário reconstruir a cidade a partir de vários elementos. Algumas ruas foram inteiramente reproduzidas em um estúdio de Berlim.

Polanski sabe que o cinema é incapaz de recriar o passado. Mas a história de Szpilman está aí para servir à visão de Polanski. Numa das cenas mais emocionantes do filme, o oficial que o salva da morte ordena ao pianista que toque, a fim de provar que é mesmo talentoso e famoso. Szpilman obedece, mesmo sem ter tocado desde o início da guerra. A cena é um tributo ao significado da sobrevivência.

Em outra cena inesquecível, antes de embarcar nos trens para os campos que matariam seus pais, duas irmãs e um irmão, o autor divide com eles uma barra de caramelo cortada em seis, sua última refeição juntos. Em nenhum momento do livro, Szpilman mostra desejo de vingança. No fim da guerra, tenta encontrar e salvar da prisão russa o oficial alemão que o tinha ajudado.

No filme, Polanski processa sua própria biografia e faz seu auto-retrato com a ajuda de outro auto-retrato. Mesmo sendo tocado diretamente pelo tema, rejeita a emoção fácil e faz o espectador descobrir mais um surpreendente testemunho do heroísmo do Gueto de Varsóvia. Tanto no livro como no filme, "O Pianista" toca fundo em nossa alma. Sua lucidez e coragem, em condições onde uma migalha de pão fazia a diferença entre a vida e a morte, conseguem transmitir uma lição de vida. Como documento, "O Pianista" nos dá a oportunidade de acompanhar a trajetória de um homem determinado a viver, a qualquer preço. O lirismo do músico, aliado a uma inteligência crítica, faz o espectador querer ir cada vez mais fundo em seu passado. E assim como Polanski se identificou e se emocionou com esse vigoroso relato, nós, também, revivemos através do filme, uma vez mais, um dos mais dramáticos episódios da História Judaica: a destruição em massa dos judeus de Varsóvia.

(Do site Morasha)

Encontrando Forrester

Apesar da sensação de algo já visto que "Encontrando Forrester" (Finding Forrester, 2000) pode dar, pois repete a trama de "Gênio Indomável", dirigido pelo mesmo Gus Van Sant, trata-se de um filme muito bom. Principalmente pela atuação do magnífico Sean Connery (o eterno James Bond, o agente 007).

É um prazer imenso vê-lo em cena; e como o escritor William Forrester ele está ainda mais convincente. Connery é daqueles atores que cativam o espectador, dando uma sensação de intimidade. É como ir ao cinema para reencontrar um velho conhecido.

Em "Encontrando Forrester", o "gênio indomável" é Jamal (o estreante Rob Brown), um jovem estudante, bom jogador de basquete e com aspirações literárias. Residente no sul do Bronx, com sua mãe e irmão, Jamal e seus amigos sentem curiosidade em relação ao solitário morador do apartamento em frente à quadra onde treinam. Ele é Forrester, o escritor vencedor do prêmio Pulitzer com seu primeiro romance, que vive recluso e nunca mais escreveu outro livro.

O personagem é associado a escritores excêntricos, como J. D. Salinger. Os amigos desafiam Jamal a invadir o apartamento de Forrester. Ele aceita a provocação, mas, ao ter que fugir rapidamente, esquece sua mochila no local. Quando a recupera, percebe que Forrester mexeu em seus cadernos e corrigiu seus textos.

A partir daí, inicia-se uma amizade entre os dois e Forrester torna-se o mentor intelectual de Jamal. Nesse ínterim, os bons resultados de Jamal nos testes escolares o levam a obter uma bolsa de estudos na escola particular freqüentada por "filhinhos de papai". Acertou em cheio, quem apostou que é ali que começam os problemas de Jamal.

Não bastasse ser pobre, Jamal também é negro. Daí para ser discriminado pelos colegas não precisa muito. Mas não é apenas isso. O excelente aluno (além de jogar bem, Jamal é inteligente e articulado) também é perseguido pelo professor Crawford (F. Murray Abraham, de Amadeus), um escritor frustrado.

"Encontrando Forrester" é até melhor que "Gênio Indomável", a história flui bem, não apela demais para tons edificantes; e Jamal não repete o personagem de Matt Damon, que, por sinal, faz uma brevíssima participação no final do filme.

A produção realça a amizade dos personagens, a importância da presença de Jamal na reclusão de Forrester. Ele acreditava que tudo já estava definido em sua vida, que não havia mais nada a ousar. A parceria entre o ator estreante e o tarimbado Connery funciona muito bem. Por isso, em alguns momentos "Encontrando Forrester" emociona.

(Universo HQ)