quinta-feira, dezembro 27, 2007

A Jornada: Uma viagem pelo tempo

O ano é 1890. O professor do Seminário Bíblico da Graça, Russell Carlisle (D. David Morin, de "Compromisso Precioso", outro bom filme), está prestes a publicar seu livro e pede aos colegas do seminário para endossarem a obra. Um dos membros da comissão, o Dr. Norris Anderson (Gavin MacLeod, de "O Barco do Amor"), se opõe à publicação do livro devido ao que ele considera um erro grave: falar de valores e moral sem mencionar a autoridade por trás desses valores - Jesus Cristo. Segundo Anderson, a publicação do livro de Carlisle poderia ajudar a demolir os pilares morais que sustentam a sociedade.

Para provar que a idéia de que o ser humano pode viver moralmente sem Deus acarreta graves conseqüências, o Dr. Anderson desafia Carlisle a ver com os próprios olhos uma sociedade que abraçou essa doutrina. Como? Enviando-o mais de cem anos ao futuro através de uma máquina do tempo criada por John Anderson, o pai de Norris.

A partir daí, o cenário é o de uma grande cidade norte-americana, cheia de tentações e de cristãos nominais que acham que podem ser bons, mesmo pouco conhecendo de Jesus e de Sua Palavra.

A ficção científica pode ser meio "forçada", mas é compensada pelo bom roteiro, personagens e diálogos convincentes e pelos apelos e discursos de Carlisle. O toque de humor leve se mistura bem à proposta séria do filme de analisar a decadência moral do mundo que vive na iminência da volta de Jesus.

Nem precisa dizer que Carlisle fica chocado e, quando retorna ao passado, resolve reescrever o livro e renomeá-lo de "Time Changer", que é o título original do filme, lançado em 2007.

Deixando de lado alguns erros teológicos como o "inferno eterno" e o "arrebatamento secreto", é um filme que vale a pena ser visto.

Michelson

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segunda-feira, dezembro 24, 2007

Escritores da Liberdade

Quem é você? E as pessoas com as quais todo o dia interage? Com que profundidade conhece os seus colegas de trabalho? Se atua em educação, quais são as informações que possui a respeito de seus alunos? Normalmente temos apenas uma visão superficial e pouco clara da maior parte dos relacionamentos que estabelecemos ao longo de nossas existências. E será que estamos preocupados com isso?

Em se tratando de escolas, por exemplo, em muitos casos parece que o nosso único dever é o de ministrar aulas, passar conteúdos, preencher cadernetas, corrigir provas, cumprir cronogramas e planejamentos. O que não parece muito diferente daquilo que acontece em tantos outros setores produtivos da sociedade, sejam eles hospitais ou escritórios, fábricas ou lojas,...

Bater cartão, cumprir responsabilidades variadas, entregar resultados e atingir metas. Viver dentro de um sistema em que a meritocracia é o principal indicador de valor social nos distancia cada vez mais uns dos outros e, aos poucos, vai minando (a ponto de destruir em certos casos) a nossa humanidade. Devo esclarecer, dede já, que não sou contrário à produtividade, ao ganho, ao crescimento profissional e ao desenvolvimento econômico de pessoas, empresas e países.

No entanto creio que todos têm que ponderar questões e situações do mundo real que afetam a coletividade e que colocam barreiras e criam problemas a nossa existência. O debate sobre o aquecimento global, por exemplo, é um caso mais do que premente e fundamental para a existência de todas as formas de vida residentes nesse planeta. Da mesma forma, enquanto não nos preocuparmos sinceramente uns com os outros, iniciando essa ação a partir das pessoas que nos são mais próximas e presentes, como podemos imaginar que as questões globais poderão ser resolvidas?

“Escritores da Liberdade”, filme do diretor Richard LaGravenese, estrelado pela talentosa atriz Hillary Swank (duas vezes premiada com o Oscar, pelos filmes “Menina de Ouro” e “Meninos não choram”), baseado em história real, nos coloca em contato com uma experiência das mais enriquecedoras e necessárias. Sua trama gira em torno da necessidade de criarmos vínculos reais em sala de aula, conhecendo nossos alunos, despertando para suas histórias de vida, entendendo o que os motiva a ser as pessoas que são.

Emocionante relato de uma experiência bem-sucedida que ainda está em desenvolvimento, “Escritores da Liberdade” tem tudo para se tornar um novo libelo do cinema em prol da educação mais efetiva (como “Sociedade dos Poetas Mortos” ou “A corrente do Bem”), onde se respeitam alunos e professores e também em que as pessoas se percebem em suas particularidades e se permitem construir, conjuntamente, como aliados, um futuro melhor para todos. Imperdível!

Cansada do trabalho em empresas que desenvolvia até aquele momento e desiludida quanto às possibilidades de crescimento e realização pessoal naquele âmbito profissional, a jovem Erin Gruwell (Hillary Swank) resolve mudar de ares e dedicar-se à educação. Assume então uma turma de alunos problemáticos de uma escola que não está nem um pouco disposta a investir ou mesmo acreditar naqueles garotos.

A pecha de turma difícil, pouco afeita aos estudos e que vai à escola apenas para “cumprir tabela” se mostra, no começo da relação entre a nova professora e os alunos, uma realidade. O grupo, formado por jovens de diferentes origens étnicas (orientais, latinos e negros), demonstra intolerância e resistência à interação, preferindo isolar-se em guetos dentro da própria sala de aula.

A nova professora é vista por todos como representante do domínio dos brancos nos Estados Unidos. Os estudantes a entendem como responsável por fazer com que eles se sujeitem à dominação dos valores dos brancos perpetrados nas escolas. Suas iniciativas para conseguir quebrar essas barreiras aos relacionamentos dentro da sala de aula vão, uma a uma, resultando em frustrações.

Apesar de aos poucos demonstrar desânimo em relação às chances de êxito no trabalho com aquele grupo, Erin não desiste de sua empreitada. Mesmo não contando com o apoio da direção da escola e dos demais professores, ela acredita que há possibilidades reais de superar as mazelas sociais e étnicas ali existentes. Para isso, cria um projeto de leitura e escrita, iniciado com o livro O Diário de Anne Frank, em que os alunos poderão registrar em cadernos personalizados o que quiserem sobre suas vidas, relações, interações, idéias de mundo, leituras...

Ao criar um elo de contato com o mundo, Erin fornece aos alunos um elemento real de comunicação que lhes permite se libertar de seus medos, anseios, aflições e inseguranças. Partindo do exemplo de Anne Frank, menina judia alemã, branca como a professora, que sofreu perseguições por parte dos nazistas até perder a vida durante a 2ª Guerra Mundial, Erin consegue mostrar aos alunos que os impedimentos e situações de exclusão e preconceito podem afetar a todos, independentemente da cor da pele, da origem étnica, da religião, do saldo bancário.

“Escritores da Liberdade” é uma fabulosa história de vida que nos mostra como as palavras podem emancipar as pessoas e de que forma a educação, a cultura e o conhecimento são as bases para que um mundo melhor realmente aconteça e se efetive.

Lições:

1. Ame ao próximo como a si mesmo.
O ensino cristão baseado nas palavras de Jesus Cristo não é devidamente compreendido como deveria. As pessoas costumam levar as palavras ao pé da letra e associar esse breve e profundo enunciado ao verbo amar em seu sentido mais literal. Poucos são aqueles que extrapolam a compreensão mais imediata do vocábulo e o entendem, nesse contexto, como respeitar o próximo, tratá-lo com decência ou ainda admitir as diferenças e valorizá-las como parte da diversidade humana que nos leva ao crescimento. Parece que sempre queremos impor princípios, modelos, práticas e ações que levem os demais a serem parecidos conosco. Falamos em demasia e escutamos muito pouco. As próprias escolas, em particular aquelas que ainda baseiam sua ação quase que exclusivamente no modelo mais tradicional de educação, realizam monólogos e dão pouca vazão ao conhecimento e à história de vida dos alunos. Desvaloriza-se tudo aquilo que o estudante tem de experiência ao mesmo tempo em que se lhes impõe, goela abaixo, saberes que são considerados “essenciais” aos mesmos... Será que não está na hora de rever tudo isso?

2. A intolerância é, sabidamente, cultural. É um conceito construído ao longo de nossas existências. A tolerância, em contrapartida, parece nascer com cada ser humano. As crianças constituem o maior exemplo disso. Não há cerceamentos e restrições no contato com outros seres humanos entre os pequenos. Para eles, o importante é interargir, brincar, trocar, tocar, abraçar, jogar... Será que podemos aprender as lições das crianças?

3. Ler e escrever são elementos básicos da civilidade. Projetos de leitura, atividades de produção escrita regular, valorização dos livros e da literatura, espaços para a divulgação daquilo que está sendo produzido nas escolas pelos alunos no que tange a textos ou ainda à ampliação dos espaços de leitura são realidades e preocupações que vemos em nossas escolas?

(João Luís Almeida Machado, editor do Portal Planeta Educação, doutorando pela PUC-SP no programa Educação: Currículo, mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie(SP), professor universitário e pesquisador)

Nota: É um ótimo filme, mas não deve ser visto por crianças, uma vez que contém cenas de violência e descrição de realidades que exigem certa maturidade de quem o assiste.

terça-feira, novembro 20, 2007

Conquista de Reis

Depois da destruição da Assíria, os vitoriosos babilônicos ficaram com as terras baixas da Mesopotâmia, as quais transformaram-se na base do novo Império do Oriente Médio, no reino de Nabucodonosor (605-562 a.C.). As terras altas do leste passaram ao domínio dos medos. Em 550 a.C., Ciro, naquele tempo príncipe da Pérsia e vassalo dos medos, rebelou-se e derrotou o rei dos medos, juntando mais tarde medos e persas para fundar o primeiro Império Persa (ou Aquemênida). Com as campanhas seguintes somaram-se Ásia Menor, Babilônia, Afeganistão e, depois da morte de Ciro, o Egito, formando-se assim o maior e mais poderoso império conhecido até então.

Durante o reinado de Dario (522-486 a.C.), o império foi organizado em vinte satrapias (províncias) que pagavam tributos. Dario estabeleceu um código legal completo, uma moeda estável e um eficiente sistema de correios. A natureza cosmopolita do império reflete-se no grande palácio construído por Dario em Persépolis (no sudoeste do atual Irã), onde os estilos arquitetônicos variam desde colunas lídias ou gregas a cornijas egípcias.

A área do palácio ocupava uma extensão aproximada de 270 metros quadrados. A porta principal estava do lado sul. A noroeste do palácio estava localizado o espaçoso aposento do trono, chamado Apadana. O terraço da parte central era sustentado por 36 belas colunas com estrias verticais e capitéis esculpidos, dispostas em seis fileiras de seis colunas cada. No aposento do trono havia muito ouro, prata e pedras preciosas.

A satrapia persa é uma verdadeira delegação de poderes. Ela reconhecia as identidades e as autonomias locais. Cada região conservava sua própria língua, suas leis, seus costumes, sua moral, sua religião e seus deuses (às vezes até mesmo seus chefes, como ocorreu na Fenícia, no Egito e na Palestina). Daí o porquê da relativa liberdade que os judeus dispersos desfrutaram no Império Persa. Esse modo de ver e de organizar as relações entre o soberano persa e as múltiplas etnias vassalas justifica o título de “rei dos reis” usado pelos soberanos aquemênidas.

Esse é o cenário histórico do filme “Conquista de Reis”, baseado na história bíblica de Ester. Xerxes I (ou Assuero) tornou-se rei do vasto império persa cerca de 485 a.C., aproximadamente cem anos depois da queda de Jerusalém sob domínio babilônico. O livro de Ester é, portanto, uma fatia da história da vida dos judeus exilados na Pérsia. Ester descendia desses judeus exilados.

Como sempre acontece nessas adaptações de histórias bíblicas para o cinema, o filme tem alguns detalhes ficcionais, mas em geral é bastante fiel às Escrituras. Com produção de primeira, o elenco conta com ícones como Omar Sharif e Peter O’toole.

Intrigas palacianas, traição, honra, justiça e confiança em Deus são ingredientes da trama. Além disso, o toque de romantismo adicionado à história de Xerxes e Ester torna o filme ainda mais agradável.

Vale a pena conferir.

Michelson Borges

quinta-feira, novembro 08, 2007

Compromisso Precioso

Em setembro, a deputada Gabriele Pauli, da Alemanha, propôs nova lei segundo a qual casamentos valeriam por apenas sete anos e teriam que ser renovados depois desse período. A deputada disse que depois de sete anos os cônjuges poderiam renovar os votos do casamento por mais tempo. Segundo Pauli, a medida evitaria os altos custos de uma separação. Na Alemanha, quase a metade dos casamentos acaba em divórcio, o que não é muito diferente aqui no Brasil.

A proposta da deputada ilustra bem a maneira como muita gente encara o matrimônio em nossos dias: como um simples contrato que pode ser desfeito a qualquer momento.

Para fazer frente a essa tendência, a World Wide Pictures pruduziu “A Vow to Cherish” (traduzido como “Compromisso Perfeito”), a comovente história de uma família que, de repente, tem que encarar o drama do Mal de Alzheimer. Seria o voto matrimonial suficiente para manter unidos John e Ellen Brighton, um casal de meia idade, mesmo em meio aos problemas profissionais e familiares que surgem no decorrer da trama?

Phil Brighton, irmão e sócio de John, diferente do irmão, não leva a vida e os relacionamentos a sério e serve de contraponto às virtudes de John. A vida de ambos ilustra o contraste que há entre aqueles que lutam para manter um casamento feliz e abençoado e os que vivem de relações descartáveis. Onde está a verdadeira realização?

O elenco inclui Bárbara Babcock (“Um Sonho Distante”), Ossie Davis (“Dr. Dolittle”) e Donna Bullock (“Força Aérea Um”), entre outros bons atores.

Um ótimo filme para se ver em família.

Michelson Borges

segunda-feira, agosto 13, 2007

A Rainha

No intervalo de uma semana, entre o fim de agosto e o começo de setembro de 1997, um mundo de mudanças se abateu sobre a realeza da Inglaterra. O que era secular se modernizou, o que era dogmático se flexibilizou e o que era particular se tornou público. Depois daquela semana, em que morreu a ex-princesa Diana e Tony Blair elegeu-se primeiro-ministro, a Rainha Elizabeth II nunca mais foi a mesma.

O formidável "A Rainha" (The Queen, 2006), de Stephen Frears, filme muito justamente indicado a seis Oscars (incluindo melhor filme, roteiro original e direção), repassa a semana dia a dia. Começa com a eleição de Blair, representante do Partido Trabalhista, reerguido ao poder - depois de 18 anos de hegemonia do Partido Conservador - com um discurso de reciclagem das relações de trabalho, incentivando o livre mercado sem deixar de lado a assistência social. É a famosa Terceira Via que fez de Blair um superstar do neoliberalismo durante a segunda metade da década.

Não foi, porém, a agenda ideológica que impulsionou a popularidade de Blair nos seus primeiros dias de governo. No mesmo dia da posse, Diana Spencer, acompanhada do namorado Dodi Al-Fayed, morre em um acidente de carro em Paris. Torpor generalizado no Palácio de Buckingham. Fica acordado que a família Spencer de Gales fará um funeral familiar. Blair telefona para a Rainha. Esta responde que não fará pronunciamentos oficiais - não cabe à instituição da realeza comentar a morte de uma pessoa que não faz mais parte da família real, argumenta. Blair decide então falar às câmeras em nome do Parlamento. É no emocionado discurso, escrito por um assessor, que surge pela primeira vez a expressão Princesa do Povo.

Não estranhe se Tony Blair, nas rápidas atitudes midiáticas tomadas para aliviar a perda dos ingleses, despontar como protagonista do filme. É a partir de suas reações que Frears delineia a personalidade da Rainha. O populismo de Blair contrasta com a reserva de Elizabeth II, que considera o luto, acima de tudo, um assunto íntimo. O apego da rainha à instituição que ela representa - "nunca hasteamos a bandeira real a meio mastro e não será agora" - é a antítese da retórica televisionada que arquiteta a equipe do primeiro-ministro.

É de valores que Frears fala, no fundo. E o ator Michael Sheen, que já havia interpretado Blair em outra produção de Frears, o telefilme The Deal, se sai muito bem compondo um personagem moralmente complexo. Vista publicamente desde 1997 como uma rancorosa opositora à imagem santa de Diana, Elizabeth II ganha no filme - e na figura estupenda da atriz Helen Mirren, indicada ao Oscar - um pouco de justiça histórica. Seu entendimento do que são os deveres e os limites de um soberano, sua visão de mundo no que se refere a privacidade e símbolos públicos, são bem mostrados em "A Rainha".

Do lado de fora, parece mesmo que a família real só gasta o dinheiro dos contribuintes ingleses. Do lado de dentro - como o diretor de fotografia brasileiro Affonso Beato nos mostra sem sensacionalismo, com o maior dos respeitos, circulando ao redor da rainha sem ofendê-la com dramatizações de câmera - fica mais fácil entender como é complicado ser a representação física, humana, diplomática, de um país inteiro.

(Marcelo Hessel, no site Omelete)

terça-feira, julho 31, 2007

À procura da felicidade

O que é felicidade? Certamente há algumas respostas possíveis, mas se você perguntar para um pai de família desempregado, incapaz até mesmo de pagar o aluguel de uma pensão e responsável por criar sozinho o filho de cinco anos (já que a mulher acabou por abandoná-lo), ele certamente dirá que felicidade é ter um emprego que lhe dê dignidade e capacidade de manter a família.

“À Procura da Felicidade” é a história de muitos cidadãos ao redor do mundo, que lutam por uma vida melhor e não cruzam os braços esperando que tudo caia do céu. Não deixa de ser também uma denúncia contra o capitalismo selvagem que sufoca as pessoas e tem níveis de exigência quase absurdos para que se possa alcançar a tão almejada estabilidade financeira.

Mas o que mais chama atenção na trama (inspirada numa história real) é a integridade de Chris Gardner (Will Smith). Ele tenta vencer de forma honesta, sem apelar para mentiras a fim de conseguir o ambicionado emprego de corretor de ações. Numa época em que uns pisam nos outros e não relutam em vender a dignidade para conquistar status e encher os bolsos, a mensagem do filme é mais do que necessária.

Quando chega ao fundo do poço, Gardner ainda encontra tempo para se preocupar com a formação do filho (seu exemplo de honestidade certamente fala mais alto) e para estudar um manual volumoso que poderá lhe garantir o cargo desejado na empresa onde depois de muito esforço consegue inicialmente estagiar sem remuneração.

Detalhe: o menino que interpreta o filho de Smith no filme, Jaden Smith, é filho dele na vida real. E nem é preciso dizer que a atuação de ambos é fantástica.

Michelson Borges

domingo, junho 17, 2007

Quase deuses

"Quase Deuses" (Something the Lord Made, 2004) é um achado! Daqueles filmes que você vai locar porque não tem muitas opções inéditas ou porque um atendente lhe indicou e não se arrependerá.

Alfred Blalock e Vivien Thomas foram médicos pioneiros em operações cardíacas, numa época em que todos os cirurgiões renomados seguiam uma lei de nunca tocar no coração humano e que negros (como Vivien) sofriam muito com o racismo. A trama aborda desde o início do relacionamento de amizade entre eles até o final de suas vidas. Ambos faleceram há mais de 20 anos.

Difícil é dizer o que se destaca mais neste filmaço feito pela HBO e dirigido pelo experiente (e fracassado nos cinemas) Joseph Sargent (80 anos), que abandonou as telonas após ser indicado ao Framboesa de Ouro com seu "Tubarão - A Vingança" (1987) e se manteve firme dirigindo filmes para a TV, até que a experiência lhe trouxe muitos Emmys e dois prêmios consecutivos mo Directors Guild Of America por "Quase Deuses" e "Warm Springs".

O roteiro, escrito a quatro mãos por Robert Caswell e Peter Silverman, soube muito bem colocar numa mesma panela, sem muita pieguice, vários relacionamentos importantes na trama. Podemos acompanhar a amizade entre o bruto e insensível Alfred e Vivien - um orgulhoso trabalhador que ama o que faz. Outra trama paralela muito bem desenvolvida é entre Vivien e sua esposa, pois o salário do marido (que não conseguiu se formar, apesar de ser tão bom médico quanto seu mentor) mal dá para pagar o aluguel. O racismo também é muito presente e nos mostra, sem julgamentos dos personagens (algo raro em filmes que abordam o tema), uma parte triste da história norte-americana. Sim, temos toda a luta dos médicos para salvar vidas (bem no estilo "Plantão Médico"), incluindo uma criança que foi a primeira a receber uma cirurgia no coração em toda a história.

Alan Rickman e Mos Def funcionam tão bem juntos, trabalham tão seriamente, mostrando tanta concentração durante todos os 110 minutos de filme, que mereceram as indicações que ambos receberam ao Globo de Ouro e Emmy por esse trabalho.

(100% Vídeo)

sexta-feira, maio 11, 2007

Desafiando Gigantes

Quem nunca teve que enfrentar grandes desafios na vida? A diferença entre o vencedor e o perdedor pode estar em sua fonte de apoio. Em seis anos como técnico de futebol americano de uma escola, Grant Taylor não consegue levar seu time, o Shiloh Eagles, a uma temporada de vitórias. Por isso, todos começam a vê-lo como um derrotado e a direção da escola pensa em demiti-lo.

Em casa, as dificuldades também o jogam mais para o fundo do poço. A esposa quer muito ter um filho e, depois de alguns exames, o casal descobre que o problema está com ele. Como os tratamentos de fertilidade são caros, a idéia do filho é deixada de lado. Depois de tantos reveses, o pensamento de desistir de tudo lhe passa pela cabeça. Até que um visitante inesperado o desafia a acreditar no poder da fé. E é na oração e na leitura da Bíblia que Taylor descobre a força da perseverança para vencer.

Depois de descobrir que a Bíblia pode ser a solução para sua vida, Taylor passa a usá-la no trabalho, contagiando os jovens que treina e promovendo mudanças na vida deles também.

A direção é de Alex Kendrick (que também é o ator principal) e a distribuidora é a Sony Pictures. Mesmo quem não entende nada de futebol americano (ou ache o esporte muito violento, como é o meu caso), pode se emocionar com essa produção que relaciona a fé em Deus às lutas e situações do dia-a-dia.

Embora certas situações e o desempenho dos atores deixem um pouco a desejar em alguns momentos, a produção tem qualidade comparável à dos típicos filmes hollywoodianos. A trilha sonora também ajuda bastante.

Dá para se promover boas discussões sobre fé prática, estudo da Bíblia, oração e testemunho.

Michelson Borges

sexta-feira, março 09, 2007

Super Size Me

Morgan Spurlock, impulsionado pelo movimento de cinema independente que veio à tona com o sucesso de bilheteria de Michael Moore, documenta a cultura norte-americana do fast food e os efeitos físicos e mentais que ele provoca. O diretor passou trinta dias a base de hambúrgueres, batata frita e refrigerante. Ingerindo cinco mil calorias diárias, ele foi sua própria cobaia no combate à rede McDonald´s. O experimento rendeu a Morgan onze quilos, além de problemas psicológicos e de saúde, que foram monitorados por três médicos antes, durante e depois do processo. Apesar dos indesejados problemas adquiridos, o diretor conquistou o posto de quarto documentário mais visto da história do cinema, além de provocar mudanças na maior rede mundial de fast foods, que aboliu o tamanho super size (gigante) e passou a imprimir os valores nutricionais dos lanches.

O espectador é constantemente surpreendido com a análise de Spurlock do procedimento de marketing e vendas da indústria alimentícia, que trabalha para deixar o consumidor acomodado e passivo. Começa na infância. As crianças são seduzidas através dos brinquedos que vêm nos lanches, do playground com piscina de bolinhas, das canções infantis, e também do desenho animado da turma do Ronald, que passa na TV. Com os pais não é diferente, são atraídos pela praticidade e comodidade que esse tipo de restaurante oferece, além de terem os filhos entretidos com os brinquedos e supervisionados pelos funcionários. A má alimentação está presente igualmente nas escolas, que oferecem cardápio rico em calorias e gorduras, colaborando para um futuro de diabetes, obesidade e alto colesterol de milhares de jovens. E é devido aos maus hábitos alimentares, que já são costume antigo do cidadão norte-americano, que os Estados Unidos são o país com o maior numero de obesos do mundo.

O grande sucesso de "Super Size Me" gerou polêmica e abalou a maior rede mundial de fast food, rendendo a Michael Moore, outro grande especialista desse estilo sarcástico de documentário, 45 milhões de dólares. Ele, que ficou reconhecido em todo o mundo por criticar o american way of life, é hoje o garoto-propaganda do McDonald´s. Pagando esse obeso cachê, a empresa fechou contrato com o cineasta por dois anos, com o objetivo de contra-atacar a má publicidade que vem sofrendo desde o lançamento do filme. Não é à toa que a companhia quer limpar sua reputação: o filme foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário e Morgan Spurlock ganhou o prêmio de Melhor Diretor de Documentário no Sundance Film Festival.

(Márcia Pavese, para o Cinestese)

quarta-feira, março 07, 2007

Uma Verdade Inconveniente

Um novo relatório, que será publicado no mês que vem, diz que os efeitos da mudança climática serão ainda mais graves do que os que as Nações Unidas tinham previsto. O diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, assegurou que “as conseqüências da mudança climática são mais sérias do que achávamos até agora”. Notícias como esta tornam cada vez mais necessária a tomada de consciência por parte dos habitantes do planeta Terra, se quiserem passar mais algum tempo por aqui e legar a seus filhos um mundo minimante habitável (já que todas as projeções apontam para uma situação crítica em, no máximo, 50 anos). E é aí que entram produções como o documentário premiado (Oscar de Melhor Documentário em 2007) do ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, “Uma Verdade Inconveniente”.

Dirigido por Davis Guggenheim, o filme, que chegou às locadoras no mês passado, apresenta argumentos persuasivos de Gore, ilustrados com gráficos, tabelas e belas imagens de várias partes da Terra. Gore explica que já não se pode tratar o aquecimento global como um problema meramente político, mas sim como o maior desafio que se enfrentará neste século.

O filme é muito bem feito, recheado de dados científicos, mas sem ser técnico demais. A criatividade e o bom humor recheiam a produção e a qualidade retórica de Gore fica evidente. O filme apenas peca pelo excessivo personalismo, centrado que é na figura do político que quase se tornou presidente nas eleições do ano 2000 e que perdeu para o Bush que não quis assinar o Protocolo de Kioto.

No fim do filme, são dadas sugestões de atitudes individuais para combater o efeito estufa.

A verdade que o filme apresenta pode ser “inconveniente” para quem pensa em viver aqui para sempre. Mas quando lembramos que o aquecimento global traz a reboque problemas como a fome, epidemias e inundações, é impossível deixar de relacionar isso com outra verdade profetizada há muitos séculos, na Bíblia: a verdade da volta de Jesus. Mas a diferença, entre tantas, é que esta traz esperança.

Michelson Borges

domingo, março 04, 2007

Orgulho e Preconceito

O grande problema de um roteirista ao adaptar um livro para o cinema, seja ele qual for, é conseguir captar todas as nuances que o escritor deu ao seu trabalho na transposição. Justamente na forma como o roteiro de "Orgulho e Preconceito" foi tratado que reside o seu maior defeito: falta-lhe a ironia fina, a sagaz observação aos padrões da época que permeia cada entrelinha dos escritos de Jane Austen.

Austen (1775-1817), nascida em Hampshire, Inglaterra, foi a filha caçula de oito irmãos de uma família tradicional. Escreveu, aos quinze anos de idade, seu primeiro romance, Amor e Amizade, e em 1796 deu cabo a Primeiras Impressões, que acabou sendo recusado por um editor. Austen então o reescreveu totalmente, e o rebatizou de Orgulho e Preconceito, sendo este lançado somente em 1813, e que acabou se tornando seu romance mais famoso.

Orgulho e Preconceito, assim como as demais obras de Austen, acabou recebendo várias adaptações para o cinema. Greer Garson e Laurence Olivier, em 1940, já travavam as batalhas intelectuais do romance. Em 1995, foi a vez de Jennifer Ehle e Colin Firth, em uma aclamada minissérie feita para a televisão britânica. Dessa vez, os papéis principais ficaram com a irradiante Keira Knightley e o soberbo Matthew Macfadyen.

A história do filme (ou do livro, como preferir) se centra na tradicional família Bennet, onde Sr. (Donald Sutherland, em notável atuação) e Sra. Bennet (Brenda Blethyn, escorregando de vez em quando) estão às voltas com o alvoroço que um recém-vizinho rico, Sr. Bingley (Simon Woods), tem causado em suas cinco filhas, principalmente em Jane (Rosamund Pike), que enxerga nele o casamento dos seus sonhos. Naquela época, o enlace matrimonial era coisa séria: não casar significaria à pobre moça o estigma de solteirona, perdedora e infeliz. Portanto, não casar não era uma atitude feminista, simplesmente não era adequado à época.

Elizabeth Bennet (Knightley) é uma moça à frente do seu tempo. Não tão bonita quanto a sua irmã e de uma sagacidade e inteligência superior, ela enxerga com outros olhos a vida e o seu destino. Mas acaba envolvida com o melhor amigo do Sr. Bingley, o aristocrata e pedante Sr. Darcy (Macfadyen). Inicialmente, como em toda história de amor que se preze, eles não se bicam: ela, por achá-lo soberbo; ele, por desprezar a condição social dela. Depois, ele acaba por se apaixonar por ela e, mesmo amarrado aos preceitos da época, se declara, mas é rejeitado. Até que enfim acertam os ponteiros.

É uma história de amor, sim, e das mais belas, mas o que falta ao filme é exatamente um olhar mais satírico por parte da roteirista estreante em cinema Deborah Moggach. Tanto é que o filme muitas vezes percorre a perigosa linha do "filme açucarado de mulherzinha". Mas há de elogiar o roteiro em uma questão: há diálogos inteiros do livro fielmente transpostos, algo rarísismo de se ver hoje em dia, o que prova que a roteirista manteve, acima de tudo, o respeito pela obra em questão.

O diretor Joe Wright, egresso da tevê e também estreante na tela grande, faz um trabalho bastante acadêmico, bem quadradinho. Pausado, não tem pressa em construir seus personagens e consegue envolver o espectador – e nesse ponto ajuda, e muito, a climática e solar trilha de Dario Marianelli. Em certo momento, a câmera de Wright passeia por cômodos mostrando vários personagens, em um belo momento de arrojo. Deve ter deixado James Ivory morrendo de inveja.

(Por Andy Malafaya, no site Cineplayers)

Nota: Para quem gosta do gênero, é um belo romance sem cenas reprováveis (coisa rara). É apropriado para discussão de valores e para comparações com os padrões morais de nossos dias e os comportamentos associados ao namoro e casamento. Um pouco do respeito que se dava à instituição na época (sem exageros, é claro) seria bom resgatar.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Sonhadora

Considerada uma das mais promissores estrelas-mirins de Hollywood, Dakota Fanning, de "A Guerra dos Mundos" (2005), é a a protagonista do drama "Sonhadora" (2006), filme baseado em uma história verídica.

O longa conta a história de Ben Crane, um treinador de cavalos de corrida vivido por Kurt Russel, e de sua filha (Dakota Fanning), que lutam juntos para salvar a vida de uma égua doente que tinha futuro promissor nas pistas de corrida. Sonya, o animal em questão, sofreu uma lesão na pata que levou seu dono - o patrão de Crane - a deixá-la de lado.

Crane, cansado de enriquecer seu chefe forjando cavalos de competição, é demitido e recebe a égua contundida como parte da indenização. Ele, então, se vê diante de um dos maiores desafios de sua vida: tratar de Sonya e recuperá-la para a prova de turfe mais importante dos Estados Unidos - a Breeders' Cup Classic.

A pequena Cale, personagem de Dakota Fanning, assume um papel importante nesse processo, ajudando nos cuidados com a égua e na recuperação da auto-estima do pai.

O jornal The New York Times disse que "Sonhadora" é melhor do que "Seabiscuit - Ama de Herói" (2003), filme que mostra a luta de um jóquei e um treinador para tornar um cavalo um animal competitivo nas corridas.

A publicação destaca o filme por retratar a corrida de cavalos como um negócio e não como um "conto de fadas". O jornal também destaca a atuação de Elisabeth Shue, que vive a mulher de Kurt Russell. Apesar da elogiada performance de Elisabeth, a "estrela do filme" é Dakota. O diretor John Gatins recebeu dos produtores o aviso de que, se conseguisse Dakota para estrelar "Sonhadora", a produção do longa seria autorizada.

(Terra)

Nota: É um bom filme para se ver com a família. Mostra o cuidado que se deve dispensar aos animais, o bom caráter frente à busca desenfreada por dinheiro (mas é bom destacar que não é correto participar de jogos de azar e apostas, como se faz no filme) e a importância da manutenção dos laços de família.